{ background: black }

terça-feira, maio 31, 2005

Bizarre Love Triangle (NO+JD+Fãs)

 pelO Puto 


A noite do passado sábado foi inesquecível. Pensando bem, eu não poderia perder uma das minhas bandas de eleição. Uma vez que os New Order, talvez devido ao peso da idade e aos compromissos familiares, dão cada vez menos concertos, muito provavelmente foi uma oportunidade única de os ver em território luso.
A espera foi agoniante. Eu e a minha miúda fomos ter com o nosso amigo AG, fã nº 1 da banda de Manchester, e a contagem decrescente começou assim que o encontramos. Assim que os Black Eyed Peas terminaram a sua actuação e a sua horda de fãs sub-16 abandonaram o espaço em frente ao palco, lá avançamos para marcar o nosso lugar numa plateia convicta. Ouvimos os Loto, que funcionaram como uma boa introdução, pois devem ter lido vezes sem conta o livro "Como soar a New Order em 20 passos".
Finalmente, mais ou menos à hora prevista, a lenda encarnava em palco. Bernard Sumner (de alcunha "Barney"), Peter Hook ("Hookie" para os amigos), Stephen Morris e o novato Phil Cunningham entravam em cena, para delírio dos muitos e sólidos fãs que os New Order e os Joy Division possuem em Portugal. Quando os cânones dos concertos apontam quase sempre para temas recentes como abertura, apresentam-nos "Love Vigilantes", um dos mais belos temas que compuseram nos anos 80. Partem para "Crystal" (sem dúvida o melhor tema de "Get Ready"), que provocou o primeiro momento de adrenalina. Seguiu-se "Regret", cantado em coro pela multidão. Depois veio uma pequena incursão pelo último álbum, com "Hey Now What You Doing" e o single "Krafty", que foi berrado por Sumner no refrão final, e isto aparentemente chateou Hookie e originou uma pequena discussão entre os dois veteranos. A gente perdoa-lhes tudo, e então quando se ouviu a linha de baixo de "Transmission", tudo isso foi esquecido. Entra tudo em delírio, principalmente para quem lá foi na esperança de ouvir os temas dos Joy Division tocados por 3/4 da banda. Nunca pensei ouvir os Joy Division ao vivo, apesar de incompletos, mas apenas eles têm legitimidade para o fazer. Dois mitos em palco é mais do que esperava. Peter Hook é imparável em palco (o seu baixo musculado é envolvente, e não há páreo para aquele som), a bateria de Stephen Morris estava irrepreensível (de todos, é o mais bem conservado) e a voz de Sumner é aquela que a gente sempre conheceu. "Run Wild" (de "Get Ready") foi provavelmente o momento menos alto. Mas fomos compensados com "She's Lost Control". Quase nos esquecemos que Ian Curtis já não está entre nós, pois um pouco dele ficou nos outros três.
Depois de "despacharem" o último álbum com a faixa que lhe dá título (felizmente não tocaram as piores), foi um desfile de êxitos e temas emblemáticos dos eighties. "We gave you rock, now it's time for some dance music", ou qualquer coisa do género, foi a fase proferida por Barney que precedeu "Bizarre Love Triangle" e "True Faith" em versão alternativa. Tudo dançava (Barney incluido), entoava e sentia dois dos grande hinos dos "Mancunians", com uma certa dose de nostalgia. Mas esse sentimento foi levado ao extremo com "Love Will Tear Us Apart", com fãs de quase todas as idades a cantar o tema mais famoso dos Joy Division, com algumas histerias, choros e outras reacções expectáveis numa banda que tanto culto despertou e ainda desperta. Terminaram o alinhamento com mais um hit, "Temptation", um dos seus grandes temas.
Como não poderia deixar de ser, tinham que nos presentear com um encore, pois tantos anos de espera mereciam uma recompensa. Dedicaram "Atmosphere" ao seu amigo e companheiro Ian Curtis, desaparecido há 25 anos. A revisitação foi quase mística, um alimento para a alma.
Terminaram com uma abordagem a "Blue Monday", que se esperava apoteótica. Com um extended play, com samples da Kylie Minogue, com os saltos de Barney, com todos nas maquinarias, com o público em êxtase, com o desejo que o concerto não mais acabasse.
A gente perdoa-lhes tudo (até as referências ao Manchester United), se é que havia algo a desculpar, e fiquei mesmerizado depois de momentos de verdadeira comunhão com uma banda que, apesar da idade, continua a dar cartas.
O nosso amigo AG, um conhecedor profundo das actuações via DVD e outras fontes, antecipava-me o nome de cada faixa, pois uma mudança de equipamento ou outro pormenor eram suficientes (segundo ele) para deduzir qual o tema que se seguia. E acertou na maioria dos casos, ou não fosse tão grande a sua devoção. Foi pena não terem tocado o "New Dawn Fades" com o Moby, mas o concerto de remissão que o precedeu já me tinha enchido as medidas.

Antony na Casa da Música

 pelO Puto 


Depois de um concerto extasiante no sábado, nada melhor que uma actuação mais intimista para contrabalançar. Foi isso e algo mais, o que aconteceu no concerto de Antony e os seus Johnsons.
Apesar de iniciado com um instrumental à guitarra acústica, o que toda a gente esperava ouvir a voz angelical de Antony, o circuncentro da sua música. Percorreu quase toda a sua discografia, teve tempo para revisitar "Guests", do seu compatriota Leonard Cohen, conversou amistosamente com a plateia repleta, distribuiu alguma boa disposição para atenuar o peso da melancolia presente na sua obra, convenceu-nos a acompanhá-lo num tema inédito, e sobretudo deslumbrou-nos com a sua performance. Os Jonhsons formam um óptimo complemento à voz e piano de Antony, conferindo-lhes uma beleza ora etérea ora cortante. Terminou com "Hope There's Someone", que nos tirou o fôlego.
Nos dois encores ainda falou no charme de Portugal, com especial relevo para as mansões na Foz do Douro, reinterpretou "Candy Says", de Lou Reed (dedicado a Candy Darling, que figura na capa do seu último álbum), e deixou saudades.

sexta-feira, maio 27, 2005

Oportunidade rara, senão única...

 pelO Puto 


Afinal acho que vou ver os New Order. Custa dar 38 euros pelo bilhete, mas eles merecem.

Gorky's Zygotic Mynci - Barafundle (1997)

 pelO Puto 


Os galeses GZM nunca atingiram o sucesso dos seus compatriotas Manic Street Preachers, Super Furry Animals ou Catatonia, talvez porque o seu pop não esteja carregado de referências mais populares, ou talvez por também cantarem em galês, com os seus termos quase impronunciáveis, parcos em vogais.
Ao quarto álbum de originais, conseguiram atingir um estatuto de culto que lhes valeu um contrato com uma major, após 3 lançamentos independentes, mas isso não lhes tolheu o espírito criativo. A prova disso é que foram despedidos antes de editarem o segundo álbum pela Fontana.
Este disco, em parte influenciado pela folk britânica, surpreende em vários aspectos. Os temas falam de viagens pelo campo, de fábulas, de histórias aparentemente moralistas, ou seja, assuntos nada óbvios e expectáveis no universo pop/rock. A música é uma mescla de géneros, muitas vezes entremeados num mesmo tema, o que conduz a resultados inesperados, principalmente com a introdução de elementos típicos de música medieval e renascentista a sonoridades mais modernas e familiares ("The Barafundle Bumbler", "Pen Gwag Glas", "Cursed, Coin & Crucified" e "Miniature Kingdoms" são bons exemplos). Para isso muito contribuem a diversidade de instrumentos, alguns deles pouco usuais nestas lides (guitarra flamenca, berimbau, ice cream piano, bodhrán, shawn, crumhorn, etc.). Mas o apelo e a duração pop de muitas das composições leva-nos até a (tentar) cantarolar as linhas em galês (o single bilingue "Patio Song" é de uma fluidez pop invejável).
Nunca voltaram a ser tão ousados, eclécticos e bizarros, apesar de terem editado alguns bons álbuns posteriormente. Destaque para "Spanish Dance Troupe", que talvez o que mais se aproxima deste trabalho em destaque.
http://www.gorkys.com/

Nico - Chelsea Girl (1967)

 pelO Puto 


Pouco depois de ter gravado o mítico álbum da banana com os Velvet Underground (para mim, um dos melhores discos de sempre), Nico, um ex-modelo alemã baptizada de Christa Päffgen, encetou uma carreira a solo, lançando em 1967 uma pequena pérola. Apesar de uma certa tensão com os VU, uma vez que foi quase imposta por Andy Warhol, 3/4 da banda colaboraram neste disco, cabendo a restante composição a Jackson Browne.
A grande maioria dos temas foram compostos para a guitarra, um pequeno ensemble de cordas e uma flauta ocasional, com arranjos simples mas de uma beleza quase celestial (quão divinais são "The Fairest Of Seasons", "These Days", "Winter Song" e "Chelsea Girls"!). Não deixa de ser incrível com funciona tão bem o contraste com a voz de Nico, aparentemente despreocupada, por vezes desafinada (ela não é de longe a melhor cantora do mundo, tecnicamente falando), de pronúncia indisfarçada, mas com inflexões suficientes para compensar essa limitação. Não imagino outra pessoa a cantar melhor estes temas negros, embora pejados de referências neo-clássicas ou folk, comprovando o génio emergente de John Cale. O contraste continua mesmo na faixa em que a sua voz revela mais empenho e firmeza ("It Was A Pleasure Then"), pois a guitarra de Lou Reed garante a sujidade necessária, como que invertendo os papéis.
Podem-no considerar um sucedâneo de "The Velvet Underground and Nico", mas para mim é um disco forte, coeso, com uma identidade própria e, acima de tudo, de uma beleza resistente ao tempo e sobrevivente a quem lhe deu vida.
http://smironne.free.fr/NICO/

terça-feira, maio 24, 2005

Kristin Hersh - Hips And Makers (1994)

 pelO Puto 


A propósito da vinda de Kristin Hersh a Portugal (não vou poder ir, chuif!), decidi dedicar-lhe uma pequena atenção aqui no blog, mais concretamente ao seu álbum de estreia a solo, o meu preferido.
Kristin Hersh formou os Throwing Muses em meados da década de 80, e eram um caso ímpar na cena independente. Uma espécie de pop esquizofrénico, com elementos musicais que pareciam fora do tempo ou deslocados na pauta, estranhamente dissonantes mas de uma sedução ímpar. Claro que isto é dizer pouco sobre uma das mais importantes bandas do seio da 4AD (quem mais os poderia contratar?), e que lançaram álbuns tão bons como "Throwing Muses", "The Real Ramona" ou "Limbo" (já agora, obrigado ao Astronauta por ter passado "Bright Yellow Gun" na última sessão dos Electrodomésticos), mas quero debruçar-me sobre a carreira a solo da senhora dos penetrantes olhos azuis.
Apesar de Kristin ser a compositora da esmagadora maioria dos temas dos TM, em 1994 editou um álbum acústico sem que a MTV o tivesse pedido. Afastado do mar oblíquo em que navegavam os TM, "Hips and Makers" está atracado em terra firme, emanando simplicidade e primando pela melodia amarga e pela beleza mais ortodoxa. A voz anasalada aliada à guitarra acústica e, esporadicamente, a um piano ou a um violoncelo, oferece-nos temas breves e intimistas, mas por vezes cáusticos o suficiente para demarcar a sua presença e força.
Posteriormente editou mais um punhado de álbuns, alternando o formato acústico com a electricidade dos Muses, terminou com estes últimos e formou os 50 Foot Wave, mais directos e ruidosos que os primeiros. Destaco o seu último disco a solo, "The Grotto", onde uma guitarra minimal e um violino cúmplice debitam melodias sobre as quais seu timbre rouco e invulgar se eleva e nos eleva.
Bom concerto para quem tem mais sorte que eu!
http://www.throwingmusic.com/

domingo, maio 22, 2005

Monozigóticos

 pelO Puto 


A propósito de uma sessão de DJing, dos 2 Many DJ's, ontem no Indústria, Porto:
Já repararam na semelhança entre Stephen Dewaele (metade da dupla de DJ's e vocalista dos Soulwax) e o realizador Roberto Benigni?

quarta-feira, maio 18, 2005

Oh Ian!

 pelO Puto 


Completam-se hoje 25 anos sobre a morte de Ian Curtis, o carismático vocalista e alma dos Joy Division. Foi com ele que aprendemos a amar a melancolia, a distinguir o negro do mau, a preferir o metro ao avião, a constatar que os anjos são simples estátuas num cemitério. Mais urbanos que depressivos, os Joy Division deram verbo à mente desiludida e voz a uma geração desamparada.
Love will tear us apart, because death didn't.

Doves - Some Cities (2005)

 pelO Puto 


Os Doves foram entrando de mansinho. Lançaram um belo disco em 2000 ("Lost Souls"), relativamente discreto, mas onde alcançaram um certo culto e se viram como representantes da herança dos Smiths. Singles emblemáticos, canções embaladas, coesão e densidade marcaram a estréia. Surpreendente para quem tinha um passado na música de dança (foram os Sub Sub durante parte da década de 1990). O segundo esforço expandiu o seu (merecido) sucesso, principalmente no Reino Unido, onde "The Last Broadcast" entrou para o lugar cimeiro do top britânico, e funcionou também como um descrédito à insistência de alguma imprensa em aglomerá-los aos Coldplay e a outras bandas descendentes de "Ok Computer".
Ao terceiro disco conquistam um espaço só seu, como uma das melhores bandas pop britânicas, com maturidade musical suficiente para afirmarem esse estatuto. Tudo o que melhor representa a pop britânica dos últimos 20 anos está neste disco: os Smiths, os The The, os Stone Roses, os Slowdive, os Blur, os Radiohead, entre outros. Até os inevitáveis Beatles lá estão. Mas não perdem a sua identidade, pois as atmosferas tão características do álbum de estréia são aliadas às incisões mais fortes de "The Last Broadcast". Das composições grandiosas aos temas mais despidos, passando pelos seus ritmos pulsantes e pelas suas melodias planantes, os Doves conquistaram, com os seus 3 álbuns, um lugar ao sol sem sairem da penumbra do seu som apaixonado.
Keep pounding!
http://www.doves.net/

terça-feira, maio 17, 2005

No problem! I'm back, mahn!

 pelO Puto 


Cá estou eu de volta, depois de uma semana na terra onde o sol, o mar e o reggae (só para falar em coisas lícitas) são omnipresentes, e "No Problem!" é a máxima nacional. Ainda tive tempo de arrastar a minha miúda para uma sessão de DJing no Incógnito, onde os Electro-domésticos (duo onde milita o Astronauta) estiveram em grande!
Brevemente voltarei à carga, assim que a indolência das férias me abandone.

segunda-feira, maio 02, 2005

Férias em dub

 pelO Puto 


Deixo desde já o aviso aos visitante deste blog que estarei ausente durante duas semanas. Vou de férias para a terra onde o reggae, o dub e o ska tiveram a sua génese. O país de origem de Bob Marley, de Peter Tosh, de Lee "Scratch" Perry, dos Skatalites, de Sly & Robbie e tantos ilustres. Onde nasceu o conceito de soundsystem.
Fiquem bem e até breve!

Josh Rouse - Nashville (2005)

 pelO Puto 


Dificilmente Josh Rouse conseguiria superar "1972", esse ano de grandes colheitas (cof! cof!). Não se pode exigir a um artista uma excelência permanente, pois isso provavelmente seria esgotante para ele e extremamente desapontante para quem o admira. Um dos caminhos possíveis seria o barroquismo, no sentido da densificação do som, e outro seria o da simplificação, que penso ser o que realmente aconteceu.
"Nashville" é marcado por uma mudança no percurso de Josh Rouse, tanto a nível pessoal (divorciou-se e mudou-se para Espanha) como a nível musical. A sua maturidade musical é espremida em composições irresistivelmente melódicas, algumas tão pop que até doem. Quem resiste ao apelo de "It's The Nighttime", "Winter In The Hampton's" ou "Why Won't You Tell Me What"? Há um (não tão óbvio) contraste com as letras, mais negras e menos festivas que em "1972", reflexo do presente e do passado também, o que confirma, uma vez mais, o seu estado evolutivo. Já afirmaram que "Nashville" é uma aproximação ao universo dos Smiths, o que se compreende, pois o modelo pop inteligente é o mesmo - com as devidas diferenças, se bem que o início de "Winter In The Hamptons" parece mesmo um tema dos Smiths, não parece? -, com as guitarras e a voz a serem donas do espectro.
Um óptimo disco, que melhora com o tempo e audições sucessivas, e, quem sabe, irá conseguir o estado de graça de "1972".
http://www.joshrouse.com